13/07/2022
Estudo permite produção das
primeiras mudas de alfarroba do Brasil
O Brasil é o país com a maior diversidade de árvores do planeta,
em seu território estão 8.715 espécies de árvores, o que corresponde a 14% das
existentes no mundo. Até pouco tempo, essa porcentagem não incluía uma espécie
frondosa de cerca de dez metros de altura, tronco castanho e irregular — de
casca lisa e com algumas saliências — a alfarrobeira (Ceratonia siliqua).
De
folhas perenes, que permanecem o ano todo, a árvore costuma florir uma vez ao
ano, entre agosto e outubro, e seus frutos, um tipo de vagem que mede entre dez
e 25 centímetros, são a fonte de um alimento rico em fibras, já conhecido por
substituir o chocolate em dietas de baixas calorias e para indivíduos com
sensibilidade ou alergia alimentar.
A
alfarroba, fruto dessa planta típica da região do Mediterrâneo — bastante
disseminada pela África e pela Europa —, pode chegar ao cotidiano dos
brasileiros de forma mais ágil e barata dentro de pouco tempo e facilitar a
vida de indivíduos com intolerâncias alimentares, alguns dos principais consumidores
do produto.
OBrasil é o país com a maior diversidade de árvores do planeta, em
seu território estão 8.715 espécies de árvores, o que corresponde a 14% das
existentes no mundo. Até pouco tempo, essa porcentagem não incluía uma espécie
frondosa de cerca de dez metros de altura, tronco castanho e irregular — de
casca lisa e com algumas saliências —, a alfarrobeira (Ceratonia siliqua).
De
folhas perenes, que permanecem o ano todo, a árvore costuma florir uma vez ao
ano, entre agosto e outubro, e seus frutos, um tipo de vagem que mede entre dez
e 25 centímetros, são a fonte de um alimento rico em fibras, já conhecido por
substituir o chocolate em dietas de baixas calorias e para indivíduos com
sensibilidade ou alergia alimentar.
A
alfarroba, fruto dessa planta típica da região do Mediterrâneo — bastante
disseminada pela África e pela Europa —, pode chegar ao cotidiano dos
brasileiros de forma mais ágil e barata dentro de pouco tempo e facilitar a
vida de indivíduos com intolerâncias alimentares, alguns dos principais
consumidores do produt
O experimento já produziu
pouco mais de 1,6 mil mudas em dois anos, parte delas usadas para análises
bioquímicas
Isso
porque pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Agronomia e do Grupo de
Estudo e Pesquisa em Estaquia (Gepe) da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
conseguiram introduzir a espécie, de forma pioneira, no Brasil.
Ao
saberem que empresas locais importam dezenas de toneladas de farinha de
alfarroba anualmente, a professora Katia Christina Zuffellato Ribas e seu
orientando de doutorado, Leandro Porto Latoh, resolveram importar sementes de
alfarrobeira, com fins de pesquisa acadêmica, para a produção de mudas dessa
espécie no Brasil. A tese de doutorado que Latoh está desenvolvendo viabilizou
o processo, desde os trâmites legais até os experimentos práticos.
Já foram produzidas pouco mais de 1,6
mil mudas, a maior parte delas usadas em análises bioquímicas. Aproximadamente
400 mudas são cultivadas a cada três meses ao longo dos experimentos.
Até chegar a essa etapa, porém, foi preciso submeter a
proposta aos órgãos públicos responsáveis por avaliar a introdução da espécie
exótica no País. O processo é complexo, tendo em vista que é preciso precaução
para evitar a contaminação e a introdução de novas pragas e patógenos em
território nacional.
A
introdução da alfarrobeira no Brasil, em termos de pesquisa, levou em torno de
dois anos, tempo mais longo que o usual, devido à pandemia de Covid-19, que
ocasionou o bloqueio de fronteiras e demais agentes logísticos.
Em
2019, os pesquisadores conseguiram as permissões do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Vigilância Agropecuária Internacional
(Vigiagro) para a importação das sementes, que vieram de Portugal, um dos
maiores produtores de alfarroba.
As
sementes chegaram ao Brasil em 2020 e, após passarem por uma quarentena no
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foram liberadas para o início dos
experimentos de germinação.
Agora,
a propagação vegetativa da espécie — técnica que consiste em multiplicar
assexuadamente partes do vegetal, originando indivíduos geralmente idênticos à
planta mãe — está sendo estudada para que sejam fornecidas mudas de qualidade
para futuros plantios.
“Estamos
desenvolvendo trabalhos voltados à produção de indivíduos de qualidade”,
explica Katia.
Fazem
parte desse conjunto os estudos sobre propagação vegetativa das alfarrobeiras
via miniestaquia caulinar (veja o infográfico acima) com uso de reguladores
vegetais do grupo das auxinas.
ssa é uma classe de hormônios vegetais que atuam
diretamente no crescimento das plantas. Também há pesquisas voltadas à
germinação de sementes e estudos bioquímicos, que ajudam na compreensão da
fisiologia (funcionamento do organismo) da espécie.
O
maior objetivo é a criação de um protocolo padrão para o desenvolvimento de
materiais selecionados, para que futuros produtores possam usufruir dessa
cultura, produzindo, a longo prazo, farinha de alfarroba nacional a um menor
custo.
Depois
que a espécie é homologada pelo Mapa e por outras entidades fiscalizadoras
responsáveis, ela pode ser plantada por qualquer pessoa, em lugares com
características e capacidade produtiva para tal.
O
processo é semelhante ao que ocorreu com outras espécies exóticas, a exemplo do
kiwi, da macadâmia e do eucalipto.
Em
relação à alfarroba, no futuro, a ideia é comercializar a iniciativa,
considerada inovadora dentro da cadeia agrícola.
“As
maiores vantagens são a redução de custos operacionais da matéria-prima
alimentícia e a abertura de espaço de consumo para todas as classes que optem
por alimentos funcionais ou que necessitem deles para uma boa nutrição”,
explica Latoh, que considera a redução dos preços para a produção e o menor custo
final para o consumidor os principais benefícios.
“O
Brasil é um país único em termos de variantes ambientais, tipos de produção e
perfil de produtores. Podemos impactar de forma positiva cooperativas,
agricultura familiar, agricultura em larga escala e indústrias, buscando a
geração de empregos e de renda. Mas, acima de tudo, podemos impactar a
alimentação funcional para uma significativa porcentagem da população”.
O
processo teve apoio de Cristiane Vieira Helm, pesquisadora da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que, junto com Latoh, testou a
farinha de alfarroba na elaboração de biscoitos.
“A
farinha de alfarroba é um ingrediente que favorece e marca o sabor de
chocolate, conferindo aos produtos uma coloração caramelo e uma elevada concentração
de compostos fenólicos, substâncias que apresentam ação antioxidante”.
Ela
salienta que a concentração de açúcar na farinha de alfarroba é baixa,
tornando-a apta para o consumo por indivíduos diabéticos. “Não apresenta
teobromina, nem cafeína na composição química, diferindo do cacau”.
A
tese de doutorado deve ser defendida em 2023. Dados preliminares foram
publicados no IV Simpósio Paranaense de Fruticultura, em novembro.
Há
alguns anos, ainda antes da introdução da espécie no Brasil, a professora
Claudia Carneiro Hecke Kruger, do Programa de Pós-graduação em Alimentação e
Nutrição da UFPR, realizou estudos de abordagem nutricional envolvendo a farinha
da alfarroba.
Ela
e seu grupo de pesquisa desenvolveram uma pesquisa pensando na incorporação da
alfarroba em formulações fermentadas, para permitir o consumo por intolerantes
à lactose. O artigo foi
publicado em 2017 na revista LWT – Food
Science and Technology, da Science Direct, e permitiu verificar que
o acréscimo do alimento aos iogurtes aumentou os teores de mineiras e fibras
dos produtos finais.
Em
outro estudo, o grupo mensurou a glicose liberada ao longo do tempo em
indivíduos que consumiram tabletes de alfarroba. O experimento obteve valores
de índice glicêmico inferiores a 50, sendo que em testes que utilizam a glicose
como alimento padrão, considera-se o índice glicêmico baixo quando seus valores
são menores ou iguais a 55. O resultado final desse trabalho foi publicado
na revista Nutrición Hospitalaria.
“Alimentos
com baixo índice glicêmico promovem uma resposta lenta e gradual nos níveis de
glicose, oferecendo substrato para a flora intestinal, promovendo sensação de
saciedade e melhoria do controle glicêmico. Dessa forma, podem ser utilizados
por indivíduos diabéticos ou em dietas para o controle de peso”, afirma.
Para
a nutricionista, o alto teor de fibras que a farinha de alfarroba apresenta
pode contribuir para o baixo índice glicêmico dos produtos feitos a partir
dela.
“A
inclusão de alimentos ricos em fibras na dieta tem sido associada com a
diminuição do risco de obesidade e de diabetes. A fibra alimentar também possui
potencial efeito preventivo contra certos tipos de câncer, em particular
aqueles que atingem o trato gastrointestinal”.
A farinha de
alfarroba ainda possui mineiras como potássio, cálcio, fósforo e magnésio. Os
compostos fenólicos presentes no produto podem apresentar atividade
antioxidante, anti-inflamatória, antimicrobiana e anticarcinogênica.
fonte: https://ciencia.ufpr.br/portal/estudo-permite-producao-das-primeiras-mudas-de-alfarroba-do-brasil/